quarta-feira, 12 de abril de 2017

CAMINHADA - Rota Frei Galvão

          Primeira peregrinação à pé, e tinha que ser uma das rotas mais difíceis...

PASSAPORTE



          "Santo Antônio de Sant'Ana Galvão, mais conhecido como Frei Galvão, ou São Frei Galvão. Uma das figuras religiosas mais conhecidas do Brasil, famoso por seus poderes de cura, Galvão foi canonizado pelo Papa Bento XVI em 11 de maio de 2007, tornando-se o primeiro santo nascido no Brasil. Em julho de 2012 frei Galvão ficou em 23º lugar entre os 100 maiores brasileiros de todos os tempos" - Fonte: Wikipedia

          Idealizado e aberto pelo Sr. Luiz Zingra em 2007, mesmo ano da canonização do Santo,  este caminho percorre algumas cidades do Sul de Minas Gerais e São Paulo partindo de São Bento do Sapucaí e terminando em Guaratinguetá na Casa de Frei Galvão, num total de 135km. O Caminho é muito bem sinalizado com as "setas azuis" e divide trechos de estrada de terra, trilhas no meio da mata e alguns quilômetros de asfalto.

          O trecho de descida da serra é uma trilha muito utilizada por romeiros com direção à Aparecida aberta em meados do século XIX. É um caminho para ser feito á pé, apesar de algumas pessoas fazerem de bicicleta, pois há vários trechos que, de tão fechada a mata e tão íngreme o terreno, não dá nem para empurrar tendo que literalmente levar a bike nas costas.

          As distâncias entre os locais de parada são bem divididas podendo ser feita por qualquer pessoa que tenha um mínimo de condicionamento físico para este tipo de atividade, mas o penúltimo trecho que vai de Wenceslau Brás até o bairro dos Pilões descendo a serra precisa de muita força física, sendo o trecho mais difícil de toda a viagem.

          Por volta de 2012 o Sr Luiz Zingra mudou-se para outro estado e como ninguém quis assumir o caminho este ficou abandonado por algum tempo até que o "Brinco" assumiu, refez as marcações e vem tomando conta até hoje. O Ponto de partida deixou de ser no centro de São Bento e passou para o bairro do Quilombo, onde administra um café e uma loja de esportes radicais.

          Este caminho ainda não é muito conhecido e poucas pessoas o fazem. É altamente recomendável não fazer sozinho, pois em vários trechos caminha-se por trilhas no meio da mata também muito pouco utilizadas. Caso haja algum problema não haverá ajuda disponível por vários dias.




DIA 1  - SÃO BENTO DO SAPUCAÍ à LUMINOSA - TRACK LOG - Distância: 20,1km

          Saímos de SP de Pássaro Marrom da rodoviária do Tietê e, em torno de 4hs de viajem, já estávamos descendo em São Bento. O ônibus não entra na cidade e precisamos fazer uma pequena caminhada até o centro na Pousada da tia Cida, onde fomos muito bem recebidos pela Dona Andréia.

          Como este seria o dia com a menor distância, resolvemos não sair tão cedo e por volta das 7hs iniciamos nossa caminhada. O caminho até o Bairro do Quilombo (2,5km) é por asfalto e chegamos bem na hora que o Brinco estava abrindo sua loja e conseguimos pegar a credencial (passaporte) do caminho. Saindo do bairro já começa a grande subida do dia. São aproximadamente 5km de subida bem forte e nos últimos metros acaba a estrada e caminhamos por um pasto e no final da subida por uma trilha pequena.

          Apesar do tempo nublado não havia chovido e em apenas um pequeno pedaço da estrada estava bem liso precisando utilizar o cajado para ajudar a não escorregar. Chegando ao topo termina também, a parte mais difícil do dia. Á partir daí caminha-se por uma trilha plana e tranquila e depois por estradas de terra até o bairro de Luminosa.

          Achamos apenas um ponto de água em todo o trajeto, já na descida para Luminosa  no km 9.

          Chegamos no distrito de Luminosa às 15hs e ficamos na Pousada Candeias da Dona Ditinha. Já havíamos ficado neste hotel quando fizemos o Caminho da Fé pois neste distrito os caminhos se cruzam e foi uma oportunidade muito boa de conversar com o pessoal que estava fazendo o Caminho da Fé e fazer novas amizades.

Saindo de São Bento do Sapucaí

Vista de São Bento do Sapucaí


"Brinco" ao centro

Fazendo amigos pelo caminho


Muitas nuvens no topo da montanha

pequeno trecho bem escorregadio

Final da estrada e começo da trilha, já no final da subida

trilha plana e muito prazerosa

Pinhões fresquinhos!

O Sol já aparecendo



Setas Azuis indicando o caminho

Parada pra pegar água e descansar um pouco

Distrito de Luminosa

Pousada Candeias (Dona Ditinha)


Pousada Candeias com vista para a Serra

Igreja de Luminosa




DIA 2 - LUMINOSA à PIRANGUÇÚ - TRACK LOG - Distância: 22km


          Saímos cedo (6hs) da pousada Cadeias e seguimos aproximadamente 1km  pelo mesmo roteiro do Caminho da Fé, com direção ao famoso "quebra pernas" da subida pra Campos do Jordão, onde então os caminhos se separam novamente.

          Este dia, apesar de ser um pouco maior em distância, é bem tranquilo. Tudo por estradas de terra e a principal subida do dia não tem trechos íngremes nem escorregadios. Atenção para a água, pois fomos encontrar apenas em uma pequena vila já quase chegando em Piranguçu no km 15.

          Faltando uns 2km para chegarmos, aconteceu um incidente: o tênis do meu pai não aguentou e "abriu o bico" literalmente. Como era sexta feira de Páscoa, estava tudo fechado e os moradores disseram que a maioria dos lojistas não abririam no sábado. Nossa única opção foi pegar um ônibus para Itajubá e tentar comprar um par novo por lá. Mas infelizmente não encontramos nada aberto e ficamos em Itajubá mesmo num hotel próximo à rodoviária.


Onde os "caminhos" de encontram

Luminosa

Onde os "caminhos" se separam




Sentido Piranguçu

Piranguçu - MG

"Incidente"




DIA 3 - PIRANGUÇÚ à WENCESLAU BRÁS - TRACK LOG - Distância: 32,2km


          Acordamos cedo e fomos procurar uma loja pra comprar o tênis novo. Mas como o comércio abriu somente às 9hs acabou ficando tarde para pegarmos um ônibus pra voltar para Piranguçu e tivemos que tomar a decisão de abortar o terceiro trecho entre Piranguçu e Wenceslau Brás. 

          Acabamos passeando pelo calçadão, tomamos café no bar do Vadinho, almoçamos e pegamos o ônibus das 14:45 para Wenceslau Brás. Chegando fomos direto para a Pousada Castelinho onde fomos muito bem recebidos pela Dona Patrícia. A pousada em si é uma atração à parte. Todo  no formato de um castelo com várias suítes, uma varanda enorme na parte de cima e quartos nas torres. Simplesmente lindo!

          Pedimos um marmitex para o jantar e fomos dormir cedo, pois o dia seguinte seira o mais difícil de toda a viajem.



"Ponto turístico" de Itajubá


Cidade de Wenceslau Brás

Pousada Castelinho




DIA 4 - WENCESLAU BRÁS à PILÕES - TRACK LOG - Distância: 30km

          Acordamos às 4hs para arrumar as coisas, tomar café e pontualmente às 5hs estávamos deixando o Castelinho. Muitos peregrinos contratam um morador da cidade para levá-los de carro os primeiros 9km, que são somente de asfalto, até a famosa Ponte de Zinco onde começam as estradas de terra. Mas como nós estávamos descansados do dia anterior resolvemos ir à pé mesmo.

          Fizemos este trecho, que é uma subida constante mas bem suave, em 2hs. Paramos pra beber e descansar um pouco e partimos. Poucos quilômetros adiante observei no GPS que estávamos fora do caminho e ficamos espantados pois não vimos marcação nenhuma do desvio. Voltamos aproximadamente uns 300 metros e não vimos UMA seta azul, mas DOZE delas indicando que deveríamos sair da estrada e pegar uma trilha. A única conclusão que chegamos foi que o papo estava tão bom que nos distraímos e nem vimos os kms passarem. 

          Neste desvio caminha-se por um pasto bem íngreme e depois uma trilha fechada até sair na mesma estrada cortando alguns kms. Na verdade é apenas um atalho. Continuamos na estrada sempre subindo até a Fazenda Boa Esperança. Um hotel com alguns chalés bem isolado no meio da mata. Ideal pra quem quer ficar totalmente offline por alguns dias.

          Saindo deste ponto, começa novamente uma trilha bem íngreme no início e depois mais suave até sair na estrada de terra próximo ao Hotel do Barão. Não se sabe ao certo por qual motivo, o proprietário deste hotel proibiu qualquer pessoa de passar pelo local, seja motorizado ou mesmo à pé e por isso precisa-se dar uma volta de 4km por uma trilha muito difícil. Trecho muito desgastante e muito lento, pois a trilha é bem fechada e depois de uma longa subida, passa-se por um vale até chegar ao outro lado onde pega-se a continuação da estrada proibida até o topo da serra.

          Chegamos às 13hs no pondo onde começaria a descer a Serra da Mantiqueira. O trecho mais aguardado de toda a viagem, pois por aí passaram meu bisavós em sua Lua de Mel para Aparecida e a emoção foi grande. A trilha foi aberta há mais de um século e devido as chuvas tornou-se uma "calha" e em alguns lugares a profundidade chega a mais de 4 metros. Não é algo extremamente difícil, mas com o cansaço dos 25km que caminhamos até lá tornou um verdadeiro exercício de paciência e força. São "apenas" 3,5km de descida até se chegar a uma estrada de terra já no bairro dos Pilões. Por sorte não havia chovido nos dias anteriores e a maior parte estava firme, com poucos trechos mais escorregadios onde precisamos nos agarrar às raízes para poder passar.

          Poucos metros depois chegamos à um bar onde tomamos uma cerveja pra comemorar e caminhamos para a pousada da Dona Sueli, chegando lá às 17hs, num total de 12hs de caminhada, onde jantamos uma deliciosa comida feita por ela e batemos papo por alguns momentos antes de dormirmos.


Asfalto até a Ponte de Zinco

Início das estradas de terra
Ponto onde "erramos" e passamos direto pelas setas azuis

trilha fechada



Fazenda Boa Esperança


Novos amigos

Da ponte só sobraram os pilares

Pinguela




Vale que tivemos que atravessar por conta do bloqueio

Topo da Serra

Inicio da descida

"Cava": em alguns lugares com mais de 4 metros de altura



CZ$ ???

Pousada da Dona Sueli - Pilões





DIA 5 - PILÕES à GUARATINGUETÁ - TRACK LOG - Distância: 24,6km

          Sabe aquela história que não se deve ir com um par de tênis novo em nenhuma caminhada ou corrida antes de amaciá-lo? Pois é! O pé do meu pai inchou durante o dia e na hora de descer a serra começou a sentir as unhas pressionadas. Pra ajudar ele já tinha dado um pontapé num tronco e tinha uma unha doendo bastante. Conclusão: ele disse que estava sem condições de colocar o tênis novamente e abortamos o último trecho até a cidade de Guaratinguetá. Sinceramente também não estava disposto a fazer este trecho, pois seriam 20km planos e boa parte de asfalto. Pegamos então uma carona até o centro e fomos visitar a Casa de Frei Galvão para agradecer pela peregrinação e o Museu que fica ao lado . Lugares muito interessantes onde conheci melhor o primeiro Santo brasileiro e seus milagres.

          De lá, pegamos um ônibus até Aparecida, demos uma passada na Basílica para agradecermos mais uma vez e pegamos o ônibus de volta para casa. E com uma sessação semelhante à que eu tive quando fiz minha primeira cicloviagem: quero mais!

Casa de Frei Galvão



Basílica de Aparecida




10 comentários:

  1. Parabéns - Mais uma aventura Pai e Filho ...

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  2. Parabéns, bela viagem! Comungando com Deus e a Natureza por testemunha!!!! Bjs.

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  3. a rota e bem sinalizada e facil de fazer ?

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    1. A sinalização depois da Fazenda Boa esperança está muito precária. Só vá com alguém que conhece ou com um GPS atualizado.

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  4. Boa tarde!!! Estou querendo fazer esse caminho depois da pandemia, a sinalização é suficiente?

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    1. Olá Alison! A sinalização depois da Fazenda Boa esperança está muito precária. Só vão com alguém que conhece ou com um GPS atualizado.

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  5. Boa noite, legal o seu relato, vc teria o telefone da Dona Sueli?

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