quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

CAMINHADA - Rota da Luz

Mais um passaporte carimbado e mais uma rota cumprida!


          ATUALIZAÇÃO: Descobri que o GPS do meu celular não está funcionando direito, portanto desconsiderar as minhas marcações e observações a respeito.

          A Rota da Luz é um caminho de peregrinação entre as cidades de Mogi das Cruzes e o Santuário Nacional de Aparecida. Num total de 200km e passando por 9 cidades sendo a maior parte por estradas de terra. Foi criada em 2015 pelo Governo do Estado de SP para evitar que os peregrinos utilizem a Rodovia Presidente Dutra, onde os índices de atropelamento sempre foram altos.

          Antes de contar minha peregrinação quero colocar uns pontos que considero importante. Fiz a Rota em Fevereiro de 2018 e as condições de apoio ao peregrino neste momento ainda são muito precárias.

          Em todos os locais do caminho, incluindo bares, restaurantes, pousadas e hotéis, ainda não há uma cultura de receber as pessoas como peregrinos, mas como hóspede/cliente. Isto realmente decepciona, pois ao longo do caminho ficamos cansados, com dores, fome, sede, etc e o que esperamos quando chegamos em algum lugar é uma boa recepção. Não que tenha sido mal tratado em algum lugar, mas o peregrino é uma espécie diferente de "cliente" que precisa de um atendimento um pouco mais humano.

          Quanto às distâncias fui gravando com meu celular no Wikiloc e, ao invés de 201 km a somatória deu mais de 230 km! Não sei se o celular marcou errado ou mesmo o App, mas que parece mais de 200 isso parece. Isto pra mim causou um stress extra, pois todo dia de manhã me preparava psicologicamente para uma certa distância naquele dia e sempre tinham, 6 ou 8 km a mais.

         A sinalização é algo muito precário. As placas são bonitas e resistentes, mas ficam muito longe uma das outras. Em alguns momentos normalmente bate uma dúvida se não passamos por alguma bifurcação sem ver e demora muito para chegar a próxima placa. Estava com outro App aberto com a rota completa e sempre que tinha dúvida consultava. Nas cidades a situação fica pior ainda, pois faltam muitas placas e em Taubaté cheguei a errar duas vezes tendo que voltar um trecho. Algo realmente complicado. As marcações pintadas em postes como no Caminho da Fé são muito mais baratas e mais eficientes.

          Tanto em Paraibuna como em Taubaté, o hotel credenciado fica fora da rota. Um item que precisa tomar bastante atenção, pois em Taubaté chega-se a andar quase 3 km a mais para chegar ao hotel e voltar à rota.

          Fiz minha viagem de sexta à quarta e aprendi que mercados, bares e restaurantes em pequenos vilarejos no meio do caminho não funcionam de segunda-feira. Portanto, este é um dia de atenção com comida e água.

          Na chegada à Redenção da Serra é possível cortar uns 4 km do caminho atravessando pela represa sem a necessidade de ir até a cidade velha e voltar pelo asfalto. Nesta época que fui a represa, apesar de bem mais cheia que os anos anteriores, está bem longe de sua capacidade máxima e é possível atravessar um trecho dela com o nível de água nos joelhos. Infelizmente só fiquei sabendo disso depois que cheguei na cidade e vi as pessoas atravessando.

          O pior trecho de todos é entre Santa Branca e Paraibuna. São mais de 40 km sem absolutamente nada no meio. Apenas no começo (aproximadamente uns 10km do início) há um pesque pague que estava fechado quando passei. Depois não há mais nenhum ponto de apoio. São pouquíssimas casas pelo caminho e a maioria está abandonada. Há duas fontes de água, mas não tive coragem de utilizar nenhum delas. A água estava amarelada.

          No assunto segurança, sem dúvida os trechos de asfalto nas cidades são os piores. Nos dois sentidos! Quanto à segurança em relação ao veículos os piores trechos são saindo de Taubaté até voltar para a área rural e depois de passar pela Dutra até uma via perimetral de Pindamonhangaba. Nestes dois trechos é necessário muito cuidado, pois as estradas são estreitas e o mato estava alto e quase invadindo a pista não deixando espaço para caminhar na borda com segurança. Além de um movimento considerável de veículos! Quanto à segurança de assaltos, não passei nenhum susto, mas o trecho da perimetral de Pinda é muito ermo e passa pela periferia da cidade. Realmente não é um lugar que se consegue caminhar com tranquilidade.



DIA 1 - Mogi das Cruzes até Santa Branca

Rota no Wikiloc aqui
Distância: 51 km
Tempo: 9:11 hs

          A saída da Rota é na Estação Estudantes. Estação terminal da linha Coral da CPTM. Como era antes das 6hs da manhã não havia ninguém no local para carimbar minha credencial e segui em frente. Consegui pegar o primeiro carimbo na vila de Sabaúna (distrito de Mogi das Cruzes) em um mercadinho.

          Todo este trecho entre Mogi e Santa Branca é tranquilo quanto à topografia e pontos de apoio para hidratação/comida. 

Primeira placa ao lado da estação de trem

Vila de Sabaúna (Mogi das Cruzes)


Vila de Luis Carlos (Guararema)
          Caminho muito tranquilo sempre descendo desde Mogi até Luis Carlos. Até Sabaúna é de asfalto e depois por estradas de terra até Guararema.



Vista do topo da única montanha do dia entre Luis Carlos e Guararema


          Parei no centro da cidade para comer uns salgados e segui viagem sem perder muito tempo pois queria chegar em Santa Branca no mesmo dia.


Rio Paraíba do Sul



          Fiz exatamente aquilo que costumo falar para os outros não fazerem: queimei a largada! Como a distância entre Guararema e Santa Branca eram apenas 20 km achei que seria muito pouco para um dia inteiro de caminhada e juntei aos 30 km entre Mogi e Guararema e fiz os 50 km no primeiro dia. Como o corpo estava quente não senti os estragos que estava causando e só fui perceber no dia seguinte onde mal conseguia pisar no chão direito.

          Fui com um par de tênis que já tinha à uns 2 anos e sempre o utilizava para correr/caminhar. Não tive bolhas no pé, unha encravada, calos. Absolutamente nada visível! Mas a sensibilidade da sola dos pés ficou tão alta que tive a sensação o caminho todo de estar caminhando descalço sobre vidro moído. No início do dia era algo suportável, mas ia piorando ao ponto de no final do dia quase chorar de dor pra caminhar. Certamente foi um bom aprendizado para os próximos.

          O Hotel Santa Branca custou R$100 e na minha opinião foi o pior curto/benefício. Classifico não mais que uma estrela.



DIA 2 - Santa Branca até Paraibuna

Rota no Wikiloc aqui (esse dia o celular deu pau e não gravou os 3 primeiros kms)
Distância: 43 km
Tempo: 7:23 hs


          Este sem dúvida foi o dia mais difícil de todos. Primeiro por ser o segundo dia e o corpo estava se acostumando à caminhada.O pé doía muito e os ombros estavam luxados por causa da alça da mochila. E segundo por ser um trecho sem apoio nenhum! Na verdade não há nem lugar pra sentar a maior parte do caminho. A topografia não é algo desafiadora e, tirando os 5 primeiros e os 5 últimos kms, o lugar é completamente ermo e não se cruza com ninguém. Não há bares e as poucas casas que tem estão abandonadas.

Vista ao final da primeira grande subida

Pesque pague (+- km 10) mas estava fechado


Cachoeira

Único para descanso com quase 20km de caminhada 

Silos

Cachoeira

Refrescando os pés
          Como era de se esperar fiquei sem água logo após passar por esta cachoeira mas já estava perto da cidade e não me preocupei. Na verdade ainda precisei caminhar uns 4 km  por uma topografia com bastante subidas e sem sombras até encontrar em bar onde pude me abastecer. Foi um trecho bem difícil.

          Em Paraibuna fiquei pela terceira vez no Hotel Santinho, onde já tinha ficado quando passei por la de bike em 2013 e 2015. O custo foi de R$80 com um excelente café da manhã!

          

DIA 3 - Paraibuna até Redenção da Serra

Rota no Wikiloc aqui
Distância: 38 km
Tempo: 7:17 hs


          Neste dia acabei saindo um pouco mais tarde pois, pelos meus cálculos, seriam apenas 30 kms. O ombro já tinha calejado e não incomodava mais, mas os pés...

          O caminho é muito bonito, ainda mais que a represa está bem cheia novamente. Já conhecia bem este trecho e me lembrava de como era um tobogã subindo e descendo o tempo inteiro. Mas a pé tive a impressão que cansou até menos que de bike. Até a metade da distância há vários bares onde é possível se abastecer, mas da metade pra frente não há mais nada até a cidade velha de Redenção.


Rio Paraíba do Sul


Fim do asfalto



Local de parada e foto ao final de uma grande subida.

Igreja Matriz da cidade velha

Pousada Paraiso

Quiosque na beira da represa
          Dia muito cansativo principalmente por ter pego muito Sol a tarde e ter andado uns 8 kms a mais do planejado. Cheguei por volta das 17 hs e, após tomar um banho e comer uma pizza no quiosque na frente do hotel, fui deitar antes das 19hs e só acordei no dia seguinte.

          Não fui tão bem recebido na Pousada Paraíso por conta de uns problemas pessoais da proprietária e, apesar de ter ficado numa suite tão nova que cheirava a tinta ainda, o café da manhã foi extremamente fraco. Mas o preço condiz mais com o que se espera de uma pousada para peregrinos: R$ 50



DIA 4 - Redenção da Serra até Taubaté

Rota no Wikiloc aqui
Distância: 41 km
Tempo: 7:19 hs


          Este trecho para mim seria novidade! Todas outras vezes que fui pra Aparecida de bike de Redenção fui para São Luiz do Paraitinga. Desta vez seria direto para Taubaté. Saindo da cidade, se volta uns 3 kms de asfalto até a rota e aí começa a subir. E sobe de verdade! Uma subida bem longa que é a primeira dos três picos. A paisagem é realmente bem bonita e, em cada um dos picos tem-se uma visão diferente das montanhas.








finalmente um banco para descanso



          Já chegando no vale do Paraíba sente-se a temperatura mais elevada, tanto por estar perto de centros urbanos como pelo próprio vale ser mais quente que na região das montanhas. Estrada tranquila depois da descida da montanha até a chegada à Rodovia Oswaldo Cruz.

          O Hotel Estrela do Vale é o melhor custo/benefício de toda a viagem, com qualidade tanto nos apartamentos quanto no café da manhã por R$80.



DIA 5 - Taubaté até Pindamonhangaba

Rota no Wikiloc aqui
Distância: 31 km
Tempo: 5:35 hs


          Por um momento passou por minha cabeça fazer os 50 kms que me separava da Basílica numa tacada só... mas ao longo do dia meus pés me lembraram que estavam em frangalhos e não rolou :)

          Saindo do hotel ainda caminhei uns 2 kms para voltar para a Rota. e segue por mais uns 7 kms pelos bairros por dentro da cidade até chegar numa estrada vicinal sem acostamento e com muito movimento para só depois de uns 12km entrar na estrada de terra e voltar a ficar tranquilo. A paisagem é típica do vale com morros baixos e a topografia excelente para caminhar.

          Depois de cruzar a Via Dutra (num túnel apertado e sem faixa para pedestre) pega-se outra estrada asfaltada sem acostamento e com muito movimento.  Estes dois trechos são os mais perigosos de todo o trajeto com relação a risco de atropelamento.

          Por volta do km 24 chega-se numa espécie de via perimetral de Pindamonhangaba onde há uma ciclovia segregada por um canteiro e cheia de árvores. Neste ponto a segurança com os veículos fica ótima, mas a segurança contra assaltos passa a ser uma preocupação pois o lugar é bem ermo e passa por bairros da periferia da cidade.  Não passei nenhum susto, mas não é um lugar por onde se caminha com tranquilidade.




Dirigível




Vista do quarto da cidade de Pinda no 9º andar
          O hotel cadastrado na rota é o Majore na antiga Rodovia São Paulo- Rio. Trata-se de um hotel de padrão executivo e não algo dentro dos propósitos da simplicidade e desprendimento do peregrino. Sem dúvida foi o melhor hotel de toda a viagem, mas com um custo também muito maior (R$130). 



DIA 6 - Pindamonhangaba até Aparecida

Rota no Wikiloc aqui
Distância: 27 km

Tempo: 4:25 hs


          Último dia de caminhada, só por asfalto e totalmente plano. Foi o dia mais fácil, mas também o mais chato. Não é a mesma coisa caminhar com barulho de automóveis ao seu lado. Por sorte estava bem nublado, até com um jeito de chuva e isto fez com que a temperatura estivesse excelente para caminhar. Acabei fazendo a maior média de todo o percurso apesar do pé estar doendo bastante.



Ciclovia segregada: tranquilidade para caminhar

Bairro Moreira Franco



Chegada à casa da Mãe


Mais um certificado
           Não se consegue avistar a Basílica em nenhum momento, apenas quando faltam uns 500 metros para chegar, mas mesmo assim a sensação é incrível. Sempre um misto de alegria com gratidão ao mesmo tempo que vem um vazio por estar terminando aquela jornada.

          Esta rota mostra que não adianta um burocrata do governo dizer que criou um caminho de peregrinação e pronto. Não basta apenas cadastrar pousadas e bares. Estas pessoas precisam estar engajadas com o caminho para realmente oferecer o apoio que o peregrino precisa. A rota ainda é muito inóspita para quem vai à pé, sozinho e sem carro de apoio. Torna-se muito difícil a caminhada. Espero que com o passar do tempo os próprios moradores da região entendam a importância econômica de uma rota dessa e comecem a oferecer mais ao peregrino.

          Não me lembro de ter ficado tantos dias sozinho e isolado (offline). Quer queira ou não isso acaba te levando à reflexões que não há tempo de fazer no dia a dia e de certa forma é algo muito positivo. Apesar do cansaço e das dores no pé, o contato com a natureza é sempre revigorante. Acalma o coração. E por isso peregrinar, independente da sua fé, é uma viagem muito gratificante.

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